segunda-feira, 4 de junho de 2012

FORTALEZA - A vez do comércio e dos serviços


FORTALEZA - A vez do comércio e dos serviços

Por JOMAR MORAIS, de Fortaleza

Disposto a ganhar dinheiro rápido, há dois anos o cearense Fábio Leite Carvalho decidiu tocar um negócio ambicioso e nada convencional. Seu sonho: vender bonecas infláveis a americanos solitários e fazer fortuna nos Estados Unidos. Ele tirou do próprio bolso 100 000 dólares, investiu tudo na fabricação dos primeiros exemplares do brinquedo erótico e foi para Las Vegas lançar seu produto. Foi um fiasco. Sem condições para concorrer com as espécimes nativas em preço e tecnologia, as bonecas infláveis do cearense ainda hoje estão encalhadas num depósito em Fortaleza.
O fracasso fez Carvalho enxergar o óbvio. Não era preciso ir tão longe para tentar um bom negócio. Para reerguer-se, o empresário mudou o foco. Em parceria com o filho Fábio Junior e outros três familiares, apostou 500 000 dólares na criação de um miniparque infantil onde brinquedos infláveis se misturam a quadras de futebol de sabão, videogames, pistas de motocross e uma espaço para comemorações. Ao que tudo indica, acertou na mosca. Um ano depois, o Guarantur Giraffa Park já é uma rede de três parques em bairros de classe média de Fortaleza. Apesar de seu dono negar-se a revelar o faturamento, o movimento diário e os planos para a instalação de uma quarta unidade não deixam dúvidas. "Isto aqui é um sucesso", afirma Carvalho.
O sucesso do Giraffa Park é apenas um dos casos que ilustram o bom momento de Fortaleza, a oitava melhor cidade do país para ganhar dinheiro, segundo pesquisa da Simonsen Associados. A capital do Ceará concentra 50,6% do potencial de consumo do todo o estado e tornou-se um excelente mercado para produtos e serviços. Só neste ano seus 2 milhões de habitantes movimentarão 6,5 bilhões de dólares em despesas de consumo. É um bolo nada desprezível para qualquer tipo de empreendedor.
Os cearenses são conhecidos por sua agilidade em capturar indústrias. Foram 426 só no atual governo Tasso Jereissati. Dessas, 150 já foram implantadas e contribuiram para que, desde 1990, o Ceará crescesse em média 6,5%, o dobro da média nacional. Todo esse movimento, que gera emprego e renda, teria de se refletir positivamente no crescimento do comércio e dos serviços. Mas o rítmo em que isso ocorre é que chega a surpreender.
Há oito anos, Fortaleza tinha um único shopping center. Hoje conta com sete, com 800 lojas, e há mais dois sendo erguidos. Segundo Stênio Martins, diretor da construtora LM, desde 1990, apenas numa área de 1 quilômetro quadrado no bairro de Aldeota foram construídas 2 850 salas comerciais. A própria LM inaugura neste mês uma torre com 480 novas salas, ao custo de 25 milhões de reais.
O comércio de alimentos, em franca expansão, faz a alegria dos chamados supermercados de vizinhança, que não páram de se multiplicar. Só a rede São Luis, com suas 13 lojas, deve faturar neste ano 121 milhões de reais. E números assim, é claro, acabam chamando a atenção de quem persegue o lucro. No rastro dos clientes de supermercados seguem agora as drugstores ou, mais precisamente, a Drugstore Pagmenos, ela própria uma história de sucesso que começou em Fortaleza e agora se espalha por seis estados nordestinos. Fundada nos anos 80 pelo empresário Francisco Deusmar de Queirós, a Pagmenos vende, além de remédios, outros 2 000 itens de consumo antes inimagináveis na prateleira de uma farmácia. Coisas como pão, rações para animais, refrigerantes e até filmes fotográficos. Bate de frente com os supermercados - e com muita força. Suas 180 lojas, das quais 70 em Fortaleza, faturam por ano 160 milhões de reais só com a venda de produtos. Além disso, a Pagmenos movimenta ainda 500 milhões de reais com os recebimentos de contas de água, energia, mensalidades escolares e outros pagamentos recolhidos em seus caixas. "Aqui ninguém fala de crise", diz Queirós. "Se ela surgir, a gente encontra um jeito de superá-la".
Não existe crise também no segmento de lazer e cultura. São várias as novas casas de show, abertas na expectativa da visita de 1,3 milhão de turistas neste ano, atraídos pelas 20 praias ao longo de 25 quilômetros da orla marítima de Fortaleza. O número de visitantes é 30% maior que o recebido no ano passado. Uma das atrações nesse departamento é o imponente Centro Cultural Dragão do Mar, construído pelo governo estadual, em torno do qual surgiram bares, restaurantes e as primeiras empresas do pólo de cinema criado com incentivos fiscais. Uma delas, a Filmlab, do paulista Wilson Brunca, é o primeiro laboratório de revelação e finalização cinematográfica fora do eixo Rio-São Paulo. Além disso, Fortaleza, que é referência nacional com o seu Beach Park - parque aquático que recebe 900 000 visitantes por ano e fatura 18 milhões de reais -, deve ganhar outro parque do gênero até o ano 2 000. Com um investimento de 140 milhões de dólares, o parque tem como donos o grupo canadense White Water West Industries e a paulista Transversal Marketing.
"Comércio e serviço são o nosso próximo passo", diz o secretário de Desenvolvimento Econômico do Ceará, Raimundo Viana, o homem que convenceu as grandes indústrias a se instalarem no estado. Agora ele pretende abordar as grandes tradings do comércio global e tocar, a partir de fevereiro, três megaprojetos de infraestrutura voltados para a comercialização de produtos e serviços. O primeiro é o complexo Ceará Expo Trade, um centro de distribuição de mercadorias dotado de armazéns alfandegados. O segundo é a Cidade Tecnológica, que reunirá numa mesma área 12 grandes indústrias e prestadores de serviços de informática, além de um núcleo de pesquisa. Por último, será construído um novo Centro de Convenções, de 90 000 metros quadrados, para disputar com o do Anhembi, em São Paulo, a localização das maiores feiras e congressos realizados no Brasil. O chamado turismo de eventos, por sinal, começa a prosperar em Fortaleza. Uma empresa que tem se dado bem no ramo é a RB Projetos, especializada na montagem de feiras. A RB foi criada, no início da década, pelo paulista Jorge Ricardo Barroso Guimarães. Sob o comando da viúva, Diva, a RB deve fechar o ano com uma receita de 1,5 milhão de reais, obtida com a organização de 80 feiras na cidade.

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