Em carta aberta
dirigida a Renan Calheiros, Thereza Collor, como testemunha pessoal da
carreira política do senador presidente do Senado Federal, afirma que
personalidades doentias como a dele são capazes de vender até as mães
para subir na vida !
Publicado por Mendonça Neto no Jornal Extra Online, de Maceió em 07/08/2007.
Carta aberta ao Senador Renan Calheiros
Vida de gado. Povo
marcado. Povo feliz.
As vacas de Renan dão
cria 24 h por dia.
Haja capim e gente besta
em Murici e em Alagoas!
Uma
qualidade eu admiro em você: o conhecimento da alma humana. Você sabe
manipular as pessoas, as ambições, os pecados e as fraquezas. Do menino
ingênuo que fui buscar em Murici para ser deputado estadual em 1978, que
acreditava na pureza necessária de uma política de oposição dentro da
ditadura militar, você, Renan Calheiros, construiu uma trajetória de
causar inveja a todos os homens de bem que se acovardam e não aprendem
nunca a ousar como os bandidos.
Você
é um homem ousado. Compreendeu, num determinado momento, que a vitória
não pertence aos homens de bem, desarmados desta fúria do desatino que é
vencer a qualquer preço. E resolveu armar-se. Fosse qual fosse o preço,
Renan Calheiros nunca mais seria o filho do "seo" Olavo, a digladiar-se
com os poderosos Omena, na Usina São Simeão, em desigualdade de forças e
de dinheiros.
Decidiu
que não iria combatê-los de peito aberto, Descobriria um atalho, um ou
mil artifícios para vence-los, e, quem sabe um dia, derrotaria a todos
eles, os emplumados almofadinhas que tinham empregados, cujo serviço
exclusivo era abanar , por horas, um leque imenso, sobre a mesa dos
usineiros para que os mosquitos de Murici (em Murici até os mosquitos
são vorazes) não mordessem a tez rósea de seus donos: Quem sabe um dia,
com a alavanca da política, não seria Renan Calheiros, o dono único,
coronel de porteira fechada, das terras e do engenho, onde seu pai,
humilde, costumava ir buscar o dinheiro da cana, para pagar a educação
de seus filhos, e tirava o chapéu para os Omena, poderosos e perigosos.
Renan sonhava ser um big shot, a qualquer preço. Vendeu a alma, como o
Fausto de Goethe, e pediu fama e riqueza, em troca.
Quando
você e o então deputado Geraldo Bulhões, colegas de bancada de Fernando
Collor, aproximaram-se dele, aliaram-se, começou a ser parido o novo
Renan. Há quem diga que você é um analfabeto de raro polimento, um
intuitivo. Que nunca leu nenhum autor de economia, sociologia ou
direito. Os seus colegas de Universidade diziam isto. Longe de ser um
demérito, esta sua espessa ignorância literária, faz sobressair, ainda
mais, seu talento de vencedor. Creio que foi a casa pobre, numa rua
descalça de Murici, que forneceu a você o combustível do ódio à pobreza e
a ser pobre. E Renan Calheiros decidiu que se a sua política não
serviria ao povo em nada, a ele próprio serviria, em tudo. Haveria de
ser recebido em Palácios, em mansões de milionários, em congressos
estrangeiros, como um príncipe, e quando chegasse a esse ponto, todos os
seus traumas banhados no rio Mundaú, seria rebatizados em fausto e
opulência. "Lá terei a mulher que quero, na cama que escolherei. Serei
amigo do Rei."
Machado de Assis, por ingênuo, disse na boca de um dos seus personagens: "A
alma terá, como a terra, uma túnica incorruptível". Mais adiante,
porém, diante da inexorabilidade do destino do desonesto, ele advertia:
"Suje-se gordo! Quer sujar-se? Suje-se gordo!".
Renan
Calheiros, em 1986, foi eleito deputado federal pela segunda vez. Neste
mandato nascia o Renan globalizado, ge-rente de resultados, ambição à
larga, enterrando, pouco a pouco, todos os escrúpulos da consciência. No
seu caso nada sobrou do naufrágio das ilusões de moço! Nem a vergonha
na cara. O usineiro João Lyra patrocinou esta sua campanha com US
1.000.000. O dinheiro era entregue, em parcelas, ao seu motorista
Milton, enquanto você esperava bebericando, no antigo Hotel Luxor, Av.
Assis Chateaubriand, hoje Tribunal do Trabalho. E fez uma campanha rica e
impressionante, porque entre seus eleitores havia pobres universitários
comunistas e usineiros deslumbrados, a segui-los nas estradas
poeirentas das Alagoas, extasiados com a sua intrepidez em ganhar a
qualquer preço. O destemor do alpinista, que ou chega ao topo da
montanha, e é tudo seu, montanha e glória, ou morre. Ou como o jogador
de pôquer, que blefa e não treme, que blefa rindo e cujos olhos
indecifráveis intimidam o adversário. E joga tudo. E vence. No blefe.
Você,
Renan não tem alma, só apetites, dizem. E quem na política brasileira a
tem? Quem neste Planalto, "centro das grandes picaretagens nacionais"
atende no seu comportamento a razões e objetivos de interesse público?
ACM, que na iminência de ser cassado, escorregou pela porta da renúncia e
foi reeleito como o grande coronel de uma Bahia paradoxal, que exibe
talentos com a mesma sem cerimônia com que cultiva corruptos? José
Sarney, que tomou carona com Carlos Lacerda, com Juscelino, e, agora,
depois de ter apanhado uma tunda de você, virou seu "pai velho",
passando-lhe a alquimia de 50 anos de malandragem? Quem tem autoridade
moral para lhe cobrar coerência de princípios? O presidente Lula, que
deu o "golpe do operário", no dizer de Brizola, e hoje "hospeda" no seu
Ministério um office boy do próprio Brizola? Que taxou os aposentados,
que não o eram, nem no Governo de Collor, e dobrou o Supremo Tribunal
Federal? No velho dizer dos canalhas, "todos fazem isto", mentem,
roubam, traem. Assim, senador, você é apenas o mais esperto de todos,
que, mesmo com fatos gritantes de improbidade, de desvio de conduta,
pública e privada, tem a quase unanimidade deste Senado
de Quasímodos morais para "blinda-lo". E um moço de aparência simplória,
com um nome de pé de serra, Siba, é o camareiro de seu salvo conduto
para a impunidade, e fará de tudo, para que a sua bandeira, absolver
Renan no Conselho de Ética, consagre a "sua carreira". Não sei se este
Siba é prefixo de sibarita, mas, como seu advogado in pectore, vida de
rico ele terá garantida. Cabra bom de tarefa, olhem o jeito sestroso com
que ele defende o "chefe". É mais realista que o Rei. E do outro lado, o
xerife da ditadura militar, que, desde logo, previne: "quero absolver
Renan". Que Corregedor! Que Senado!
Vou reproduzir aqui o que você declarou possuir de bens em 2002 ao TRE. Confira, tem a sua assinatura:
1) Casa em Brasília, Lago Sul, R$ 800 mil,
2) Apartamento no edifício Tartana, Ponta Verde, R$ 700 mil,
3) Apartamento no Flat Alvorada, DF, de R$ 100 mil,
4) Casa na Barra de S Miguel de R$ 350 mil
E SÓ.
Você
não declarou nenhuma fazenda nem uma cabeça de gado!! Sem levar em
conta que seu apartamento no Edifício Tartana vale, na realidade, mais
de R$ 1 milhão e sua casa na Barra de São Miguel, comprada de um
comerciante farmacêutico, vale R$ 3.000.000.
Só
aí, Renan, você DECLARA POSSUIR UM PATRIMÔNIO DE CERCA DE R$ 5.000.000.
Se você, em 24 anos de mandato, ganhou BRUTOS, R$ 2 milhões como
comprou o resto? E as fazendas, e as rádios, tudo em nome de laranja?
Que herança moral você deixa para seus descendentes. Você vai entrar na
história de Alagoas como um político desonesto, sem escrúpulos e que
trai até a família. Tem certeza de que vale a pena?
Um vez, há poucos anos, perguntei a você como estava o maior latifundiário de Murici. E você respondeu: "Não tenho uma tarefa de terra. A vocação de agricultor da família é o Olavinho". É verdade, especialmente no verde das mesas de pôquer!
O
Brasil inteiro, em sua maioria, pede a sua cassação. Dificilmente você
será condenado. Em Brasília, são quase todos cúmplices. Mas olhe no
rosto das pessoas na rua, leia direito o que elas pensam, sinta o
desprezo que os alagoanos de bem sentem por você e seu comportamento
desonesto e mentiroso. Hoje, perguntado, o povo fecharia o Congresso.
Por causa de gente como você
Thereza Collor
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